17 mar 21

SEM DINHEIRO NO CAIXA: COMO O SUPERENDIVIDAMENTO AFETA AS FAMÍLIAS BRASILEIRAS?

De acordo com dados do SPC Brasil, 6 em cada 10 famílias brasileiras estão endividadas; situação tende a piorar com o término do pagamento do “coronavoucher”

Imagine um volume de pessoas equivalente a toda a população dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro sofrendo com um mesmo problema. Esse obstáculo em suas vidas é responsável por lhes tirar o sono, gerar ansiedade, dor de cabeça e provocar brigas na família. Pode até parecer, mas não estamos falando aqui da Covid-19, mas sim de um problema no Brasil que precede a doença, o endividamento e, em muitos casos, superendividamento da população.

No Brasil, cerca de 63 milhões de pessoas (41% da população adulta) está inadimplente, com ao menos uma conta a pagar, já vencida, segundo os últimos dados do SPC Brasil; estima-se que metade dessas pessoas com dívidas estão na modalidade dos superendividados, que não conseguem enxergar uma luz do fim do túnel com tantas contas para pagar.

E o pior cenário ainda está sendo pintado. Com o fim do “coronavoucher”, auxílio emergencial do governo aos mais necessitados durante a pandemia em 2020, haverá mais excluídos do mercado de consumo e, consequentemente, superendividados. Durante a fase mais aguda da crise da Covid-19, o auxílio emergencial deu fôlego para que famílias pudessem minimamente honrar o pagamento de contas como água, luz e telefone.

O que é superendividamento?

De acordo com especialistas, o superendividamento ocorre quando mais de 30% da renda líquida mensal do consumidor está comprometida com dívidas. São os famosos boletos que se acumulam e, por algum motivo, as pessoas não conseguem honrar o pagamento deles. No Brasil, é comum ver muitas famílias ter quase 100% de sua renda comprometida com esses débitos.

Para essa explicação ficar mais clara, imagine, por exemplo, que uma pessoa tem um emprego em que ganha, em valor líquido, R$ 5.000. Contudo, os gastos com alimentação, aluguel e dívidas somam R$ 5.500.

Nesse caso, mensalmente, esse profissional já gasta 500 reais a mais do que aquilo que tem condições de pagar. Apenas esse gasto excedente, fora os esporádicos, já gera uma dívida mensal que não poderá ser paga nos meses seguintes justamente por não haver saldo disponível. Se acumularmos essa dívida mensal em um ano o montante chegará a 6 mil reais, isso sem contar os juros que incidiram sobre esse valor.

Como o superendividamento afeta as relações familiares  

De acordo com especialistas, o fenômeno do superendividamento faz com que parceiros passem a criticar e insultar um ao outro, reduzindo ainda mais a satisfação com o relacionamento.

Além disso, pais superendividados têm vergonha e tentam manter padrões de consumo, agravando ainda mais sua realidade financeira. Portanto, quando se passa a dar tratamento ao superendividado também se está protegendo o instituto familiar, que obviamente têm reflexos em grau de escolaridade e de violência na sociedade.

Formas de superendividamento

Como uma pessoa chega a gastar mais do que ganha? Essa é a pergunta mais frequente quando o assunto são os superendividados. O gatilho para esse descontrole pode ter um viés financeiro, emocional ou ambos. Fatos inesperados, como desemprego, doenças e mortes na família, por exemplo, podem desorganizar as finanças até das pessoas mais controladas.

Por isso, especialistas resolveram separar os superendividados em modalidades distintas, afinal alguns têm consciência do problema que estão carregando, outros nem tanto:

Superendividamento ativo consciente – trata-se do consumidor que se endivida sabendo que não terá condições de pagar suas dívidas. Ele entra em dívida mais por uma gap de moral e ética do que por descontrole financeiro. Trata-se do famoso “devo não nego, pago quando puder ou quiser”.

Superendividamento ativo inconsciente –  Este é consumidor que entra em dívida por falta de controle de suas finanças. Em geral, são pessoas que não tem bases de educação financeira e acabam se perdendo nos números dos débitos.

Superendividamento passivo – Este é o consumidor que é afetado por fatores externos (como a pandemia e as consequentes demissões) de modo que deixa de possuir condições para honrar suas dívidas.

Por que boa parte da população brasileira está inadimplente?

Há muitas causas que podem conduzir os brasileiros a ficarem no vermelho. Dentre elas a questão mais forte é a formação cultural de nossa sociedade. Nossa doutrina, como na maioria dos países latinos, exclui os ensinamentos e as conclusões das leis econômicas do seio familiar, independentemente da classe social em que se figura.

É um tabu falar sobre questões econômicas e saúde financeira dentro de casa. E, nas escolas, o movimento de abordar o assunto é recente. De acordo com as determinações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ensino dessa competência passou a ser obrigatório a partir de 2020. Em outras palavras, durante anos, não fomos ensinados a falar sobre o tema o que relegou os brasileiros a um índice baixíssimo de poupança. Gastamos muito e poupamos pouco.

Em uma pesquisa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre conceitos financeiros, em 30 países, o índice de respostas corretas para perguntas sobre o tema “educação financeira” foi de 58% no Brasil, bem abaixo da média de 78%. Isso mostra as dificuldades dos brasileiros em termos financeiros, o que compromete a capacidade de planejamento futuro.

De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2018, apenas 16% dos brasileiros economizaram qualquer quantia de seus rendimentos. Na média, o valor poupado foi de R$ 498,81.

Segundo o levantamento, a dificuldade para poupar é alta até mesmo entre os brasileiros de renda mais elevada. Considerando os consumidores que possuem rendimentos compatíveis às classes A e B, pouco mais de um terço (36%) conseguiu guardar dinheiro no mês de fevereiro deste ano. Nas classes C, D e E, o percentual de poupadores foi ainda menor, de apenas 11%.

Gostou do conteúdo? Quer saber mais sobre como controlar seu orçamento e o de sua empresa? Então inscreva-se no curso Educação Financeira: Os 4 Passos Para O Sucesso Nas Finanças Pessoais. Será uma jornada de conhecimento pelo mundo dos investimentos. Não perca!

https://fia.com.br/extensao/educacao-financeira-4-passos-sucesso-financas-pessoais/


Voltar